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quarta-feira, 9 de junho de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
O livro - XXI

Após o aviso para comparecerem no Governo Civil - Dr. Joaquim Álvaro e o Dr.Silva Pinho - reuniram-se, este e o administrador de Gaia, tendo-se lembrado de vários expedientes, tendo ambos optado por um alvitrado pelo Dr. Silva Pinho.


Um aspecto da Praça da Batalha, há muitos anos, no blogue Atuleiros

Chamaram o secretário, Carneiro, já citado anteriormente e o Dr. Silva Pinho ordenou-lhe:
-Escreva, sr. Carneiro.
-O que é que hei-de escrever? - rematou.
-O que eu lhe vou ditar, finjindo que sou o administrador de Gaia.
O secretario sentou-se, pegou na pena e foi-lhe explicado que era um auto, devendo começar pelas palavras de estilo nestes documentos.
Então o que tratava este auto? Era um documento, assinado por várias pessoas, pelo qual o administrador relatava uma ocorrência, de que todos ficavam cientes como intervenientes e provando os factos relatados. Era a descrição que não vamos agora repetir, dos factos passados desde Avintes até Gaia, dizendo que foram presos o Visconde de Aguieira, tutor das Meninas Mascarenhas, o Dr. Silva Pinho, porque não eram portadores de passaporte, mas cuja identificação e comportamento insuspeito de todos, lhe tinha sido abonado pelos cidadãos Alves Souto e Francisco Veloso da Cruz, de Vila Nova de Gaia, e que estes afiançavam que o «bacharel Joaquim Álvaro se dirigia à referida cidade com as duas Meninas suas tuteladas, a fim de entrarem num colégio de educação.».O secretário Carneiro, no fim, ergueu-se entusiasmado com a peça jurídica do Dr. Silva Pinho e deu-lhe um apertado abraço pela habilidade com tinha sido redigido. O administrador sorria agora. Obtidas as assinaturaas daqueles dois intervenientes, lá foram ao Governo Civil que, na época, por ficar numa casa antiga, a Casa Pia, não se dizia «ir ao Governo Civil», mas «ir à Casa Pia». E foram muito mal recebidos, logo que chegaram, pelo dito Governador que nem esperou nenhum cumprimento e a interpelação surgiu imediata e brusca:
- Sr. administrador de Gaia, chamei-o aqui para o obrigar a apresentar as Meninas Mascarenhas que teve em custódia em Vila Nova. Onde estão essas Meninas? Diga onde estão e não admito desculpas.
O administrador ficou pálido. Aí percebeu o Dr. Silva Pinho que era o momento de intervir, porque o administrador hesitante, confuso, praticamente envergonhado, não conseguiu esboçar uma explicação.
O Dr. Silva Pinho pede licença para dar um esclarecimento. E o Governador pergunta:
- Quem é o senhor?
O Dr. Silva Pinho diz que é um bacharel formado em Direito e que acompanhou as duas órfãs e o seu tutor até à cidade do Porto e que queria informar «o nobre governador civil do Porto» das razões do seu procedimento, uma vez que também fora intimado para estar ali. Respondeu o Governador:
- Pois fale lá então o sr. bacharel!...
O Dr. Silva Pinho usou e abusou da sua oratória e lá conseguiu convencer o governador que não havia crime algum no que estava a ser feito, pois tais factos estavam pendentes no tribunal da Relação, sobre um despacho do juiz de Tondela e o que esse tribunal disser é o que se vai cumprir, rematou o Dr. Silva Pinho.
E do que foi dito, podia prová-lo, pois o administrador, o que fez é o costume em condições idênticas. E pediu para ler o auto, que por si próprio tinha sido escrito na administração do concelho.
Convém esclarecer que o Governador tinha o título de Visconde (de Valongo, coincidência), que mais tarde havia de ser atribuído também a Joaquim Álvaro, mas de Aguieira.
O Governador manifestou-se esclarecido, dizendo que se era um negócio pendente em tribunais, estes que decidam como for de justiça. E terminou dizendo:
- Podem retirar-se.
E lá voltaram a Vila Nova, nome da localidade, hoje cidade, muito usado no livro, que, parece, o seria também em meados do século XIX. Não era chamada de Vila Nova de Gaia. E as aventuras não terminam já... porque senão não tinha piada nenhuma...

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