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sábado, 27 de março de 2010

AUSÊNCIA TEMPORÁRIA

AUSENCIA
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SÓ PARA INFORMAR QUE VOU ESTAR AUSENTE DO BLOGUE
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DURANTE ALGUM TEMPO
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ATÉ BREVE....

quarta-feira, 24 de março de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
O Livro - IX
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No capítulo VIII, deixamos a história na conversa do Dr. Silva Pinho e o Visconde com D. Margarida Coelho da Rocha e das respostas desconfiadas desta para com os seus visitantes, caracterizadas, em relação aos factos, pelas palavras - «Tenho uma ideia»....

Escola EB1 de Cabeçais, freguesia de Fermedo, local onde passaram as Meninas Mascarenhas, retirada do site daquela escola

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Depois de Pacheco Teles ter dito que era o tutor das meninas e que elas erão perseguidas, surge esta pergunta:
- Mas o que pretendem os senhores?
- Pousada por uma noite nesta casa. De manhã, continuaremos a nossa viagem.
E assim aconteceu no meio de um ambiente de desconfiança e mistério por parte das pessoas daquela casa. Existiram mais explicações e D. Margarida mostrava-se menos desassossegada. Arranjados os aposentos e apressada a ceia, deixou-os a sós, «menos constrangida vinha de vez em quando até junto deles, interrogando-os mais com os olhos espantados que com a palavra desconfiada.»
Veio a ceia, por sinal apetitosa e suculenta e de seguida foram todos descansar, sendo a própria D. Margarida a acompanhá-los aos respectivos quartos que destinou às pessoas da comitiva.
«As meninas ficaram numa cama; eu e Joaquim Álvaro ficámos noutro compartimento, dormindo juntos. Seriam dez horas dessa noite terrível. Estávamos fatigados e o sono veio depressa.»
Mas o sono e os sonhos que talvez viessem a ter foram brutalmente interrompidos quando se ouviu a detonação de armas de fogo. A seguir, ouviu-se outra, à mistura de rumores e gritos raivosos e passos apressados de gente, fora de casa. Levantaram-se ambos.
Referia o Dr. Silva Pinho: «O que seria? As detonações das espingardas e a algazarra continuaram.» Passaram alguns minutos, até que, perante o silêncio seguem-se várias pancadas à porta do quarto onde esperavam por um reparador sono e gritando-se, alto e bom som, que estavam presos à ordem de el-Rei.
O Dr. Silva Pinho, como deixou entender, sabia o latim, de que resultou um exame proveitoso na Universidade, lembrou-se de um verso de Vergílio, na «Eneida», que dizia:
«Frigidus horror mihi membra quati» - que significa na tradução que o livro, em nota de roda-pé, esclarece: «Um horror frio agita-me os membros».
Perante estes inesperados acontecimentos, instalou-se algum desânimo, pareciam perdidos porque até a resistência seria impossível, porquanto a casa estaria cercada, o quarto invadido por homens de espingarda aperrada, e logo choveram as perguntas quem eram, donde vinham, para onde iam e se traziam passaporte!
No meio desta inesperada confusão, a primeira reacção e ideia, foi dizer que a D. Margarida podia confirmar serem pessoas de paz, podendo ser a sua fiadora de identidade. Na resposta de D. Margarida, veio a derrocada completa, quando disse:
«Esses senhores disseram-me donde vinham e a que família pertenciam. Pessoalmente não os conheço. Por isso não posso afiançar a sua identidade.»
Todos sucumbiram perante esta resposta.... e até esqueceu a carta de apresentação da sua amiga Matilde Máxima, de Soutelo, acrescento eu!

A Junta de Freguesia na história - 28

As arrematações e demarcações

Em 1911, já se admitia o alargamento deste cemitério. E isso foi feito várias vezes, durante estes anos!


A acta de 17 de Dezembro de 1911, que relatamos anteriormente, trata de outros assuntos, como seja o facto de se ter dirigido ao adro de Valongo, a fim de pôr em arrematação a reparação da casa da Junta, conforme tinha sido anunciado.
Para este efeito apareceram vários licitantes, os quais ofereceram valores diferentes, mas muito elevados, pelo que se resolveu não entregar a arrematação. No mesmo momento foi deliberado que a situação iria a segunda praça, que teria lugar no dia da próxima sessão, que seria no primeiro domingo de Janeiro a seguir àquela data.
Nesta mesma sessão de 17 de Dezembro de 1911, a acta destaca que «tendo aparecido nesta sessão numeroso público reclamando à Junta para que, como intérprete e zeladora dos interesses da freguesia, fizese demarcar o terreno que deve pertencer à mesma Junta de Paróquia, junto ao cemitério público, prevendo a necessidade de, de futuro, ser preciso o alargamento deste , e bem assim para igualmente demarcar o coradoiro do sítio do Lameirão, limite de Brunhido, - deliberou finalmente esta Comissão que essas demarcações se executassem igualmente na próxima sessão, depois de ouvidas pessoas que pudessem elucidar a mesma Comissão sobre estes assuntos.»

terça-feira, 23 de março de 2010

Coisas e Loisas - 18

O Oficial do Registo Civil




Quando um dia destes coloquei aqui a última história da freguesia, acabei por salientar, sem querer, uma função que existia antigamente nas freguesias, e que, salvo erro, se chamava o Oficial do Registo Civil.
Então, em poucas palavras, o que era esse Oficial?
Era uma pessoa, que agora não recordo, mas cujo perfil devia obedecer a certos requisitos e penso que era nomeado, mas não sei por quem.
O que muita gente se lembra, é que era a pessoa que na freguesia tratava dos registos de nascimento, dos registos de óbitos e não sei se mais qualquer coisa. Ou seja, no nosso caso, as pessoas em vez de irem para Águeda, à repartição do Registo Civil, faziam-no a dois passos da porta.
Como acima disse, isto vem a propósito de nas histórias da Junta de Freguesia, o professor Vidal era, ao tempo, o Oficial do Registo Civil. Era o elo de ligação e de simplificação das legalizações dos assuntos das pessoas, sem que estas, muitas vezes sem condições mínimas, terem de se deslocar alguns quilómetros, por exemplo, imaginemos, naquele tempo, uma pessoa ter que se deslocar do Préstimo a Águeda. Era um dia inteiro, com as vias de comunicação existentes.
Penso que está explicado e devidamente esclarecido o que era o Oficial do Registo Civil nas freguesias.
Como sabemos estas funções já não existem há muito, e o último Oficial do Registo Civil na freguesia de Valongo do Vouga, foi o sr. Eugénio Fernandes Gomes, que tinha a sua loja frente ao adro da igreja. Houve outros, antes deste, como é o caso do prof. Vidal, mas já não sei quem foram.
Uma nota curiosa prende-se com a «aplicação» de certos nomes de pessoas, porque o oficial do Registo Civil, muitas vezes, escrevia a «seu modo» e, depois, os mesmos deviam ser respeitados, nas suas identificações, tal qual tinham sido escritos. Podia, legalmente, dar-se uma volta à situação, para mudar o nome, mas o trabalho burocrático era de tal forma «intolerante» que os nomes acabavam por ficar como tinham sido escritos.
Se ler isto e concluir que não conhecia a extinta função do Oficial do Registo Civil, já fico satisfeito. Se ainda se lembra, graças a Deus, é porque pode falar nele.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Coisas e Loisas - 17

UMA LIÇÃO?!



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Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça! É preciso mais alguma coisa?

A Junta de Freguesia na história - 27

Pormenores avulsos


Como estes resumos focam o caminho de ferro, esta gravura a ilustrar


Das actas da Junta, retiramos alguns factos, que retratam e fazem a história de algum expediente e das pessoas envolvidas em determinadas funções, além de outras actividades que entretanto se iam verificando. Eis algumas;
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Sessão de 5/11/1911:
- Pedidas árvores à Câmara para serem plantadas no adro.

Sessão de 10/3/1912:
- Foi lido o alvará do Governo Civil de Aveiro que nomeia vogais substitutos os cidadãos Cirilo Simões dos Santos, Álvaro de Bastos e Bento Gomes.
- Proceder à vedação da entrada do adro da igreja na parte relativa à alvenaria, ficando o portão de ferro para mais tarde.
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Sessão de 24/3/1912:
- Um ofício da Câmara pedindo nota de todos os negociantes de madeira, lenha ou barro, desta freguesia, para se dar cumprimento ao art.º 1.º da postura de 30/3/1911.
- Um ofício para nomeação de zeladores, sendo Manuel Marques de Assunção, de Arrancada e António Simões Amarelo, de Aguieira.
- Um outro ofício consultava a Comissão Administrativa sobre a conveniência ou inconveniência da edificação do quartel militar em Águeda. Votou-se pela conveniência.

Sessão de 14/4/1912:
- O Presidente da Junta era também, por mera coincidência, o oficial do Registo Civil na freguesia. Assim, foram alteradas as disposições sobre pagamentos de taxas de entradas de cadáveres no cemitério. Ou seja, o prof. Vidal preenchia os documentos de óbito para o Registo Civil e, ao mesmo tempo, para facilitar as coisas, recebia as respectivas taxas devidas à Junta.

Sessão de 9/6/1912:
- Apresentado ao governo o pedido para que os comboios do Vale do Vouga tenham a paragem de 1 minuto na passagem de nível a leste da Carvalhosa. Tinha sido extinto o apeadeiro de Aguieira. De notar que o apeadeiro de Aguieira chegou a estar implantado próximo da passagem de nível actual, naquele lugar. Segundo reza a história, os comboios, principalmente no inverno, não tinham condições técnicas de arrancar para retomar a marcha. Daí que se tenha mudado para o local onde está actualmente, na travessia para o Vale das Figueiras. O que se confirma, com tal pedido, que não havia paragem de comboios no local mais central da freguesia.

Sessão de 14/7/1912:
- Oficiar à C.M. Águeda, para esta pedir à Direcção de Obras Públicas de Aveiro, que mande fazer um estudo do ramal da estrada de acesso ao Caminho de Ferro, do Espírito Santo à Carvalhosa.

Sessão de 27/10/1912:
- Um ofício do Administrador do Concelho que acompanhava a cópia de outro do Ministro do Fomento, com o despacho que indeferiu o pedido feito por esta Junta para o estabelecimento de um apeadeiro na Carvalhosa. Foi lançada uma campanha com outras Juntas de Freguesia limítrofes, nomeadamente do Préstimo, Macieira de Alcoba e Talhadas.

domingo, 21 de março de 2010

Coisas e Loisas - 16

As Festas Populares

Foto do blogue cincodemaio.blogs.sapo.pt
Em 24 de Julho de 2008, já lá vão quase dois anos, no jornal semanário mais antigo do país, «Soberania do Povo», de minha autoria, foi publicada uma opinião sobre Festas Populares, mas publicitadas em "honra" dos Santos. Embora saiba que tal opinião parece que não agradou a muita gente, há uma diferença que deve ser apontada: fui para um jornal e publicamente emiti uma opinião; em sentido contrário, ou seja, fazendo jus à sua discordância, ninguém fez publicar o contraditório. Agora, não vem ao caso, nem é por causa disso que aqui volto, transcrevendo, tal e qual o que, naquele semanário, dizia:

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Estamos em maré alta de festas populares e respigamos isto de um pequeno folheto: "Chegou o verão e, com ele, a época das tradicionais festas populares em honra dos santos. Nem sempre, porém, estas festas são verdadeira manifestação de alegria cristã e de veneração dos santos, nossos intercessores e exemplos a seguir".
Sugere este texto as festas a que nos habituamos a ver, frequentar, a estar presentes, quem o faz, claro. E sugere ainda outros factores, como sejam autênticos milagres de gestão e engenharia financeira, apenas comprovando o aforismo e a realidade de que com trabalho tudo se consegue. Às vezes os custos envolvidos, nota-se à vista desarmada, podem ser considerados exorbitantes e, nalguns casos, descabidos. Com estas opiniões, até parece que sou contras as festas.

Procissões de fé públicaO folheto envereda ainda por recomendações e alguns comentários sobre as manifestações religiosas que lhes estão associadas. Por exemplo, "a procissão deve constituir uma manifestação pública de fé... não é um acto religioso para meros espectadores presenciarem, nem uma simples honra para as nossas casas pelo meio das quais ela passa..."
Tem outros comentários que o espaço não permite e o conteúdo passaria ao lado da intenção desta opinião. Mas o que interessa evidenciar são apenas alguns aspectos cruciais. Por um lado, alguma rivalidade que as respectivas comissões colocam nos programas, procurando, cada uma, fazer melhor que a anterior (nalguns casos) e, por outro, os investimentos envolvidos.
Por muitas tradições que a história demonstre e confirme, é que a quase totalidade do seu programa e do seu tempo é profano e o lado religioso, em nome de quem se quer honrar, é diminuto. Por isso, se a festa é em honra do santo x, y ou z, não se misture mais nada que não seja, unicamente e só, honrar aquele, ou aquela, que em vida foi um modelo e um exemplo para a sociedade, com a inerente santificação, pelos actos e pelas obras, que lhe foi e é reconhecida.

O retornoQuanto aos investimentos referidos, é de notar que os que os conseguem, trabalhando e soando as estopinhas, fazem com que a comunidade em que se insere este tipo de iniciativas fique sem nada, quer espiritualmente, quer materialmente, ou seja, não há retorno de qualquer tipo de benefício, a não ser em favor daqueles que "vieram fazer a festa".
Na freguesia onde me encontro inserido, o fenómeno é, normalmente, comedido, salvo uma ou outra excepção, que confirma o pensamento que estamos a discernir (algumas, deixaram de se realizar, com excepção da parte religiosa) mas que nem por isso deixa de constituir assunto para reflexão, atendendo às necessidades mais primárias que a comunidade sente actualmente, pelo menos uma grande parte, que se reflectem nos seus contributos para festas, quando os elementos da respectivas Comissões lhes batem à porta.

sábado, 20 de março de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
O Livro - VIII
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Pelourinho do antigo Concelho de Fermêdo. Tem gravado duas datas: 1275 do foral de Fermêdo e 1932, data da sua implantação no local actual (junto à capela de Nossa Sra. de Saúde em Cabeçais). Classificado Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 23122 de 11-10-1933.
(Do site oficial da C. M. Arouca.
www.cm-arouca.pt Por aqui passaram os fugitivos com as Meninas Mascarenhas)


Procurando seguir amíude o Livro de «As Meninas Mascarenhas», acompanhamos a narrativa do Dr. José Joaquim Silva Pinho, no momento em que às três da madrugada eram feitas as despedidas da família e partia a comitiva em direcção à quinta de Covelas, em Cabeçais. Esta localidade, vista no mapa, fica perto de Romariz, como vamos ver a seguir e ainda mais próxima de Fermedo. Duas localidades que a narrativa identifica.Não vale a pena descrever as características e as formas como se apresentavam, mais parecendo que estes homens, com as meninas que transportavam, iam para uma guerra.


Citamos ainda esta parte do livro, pelas características e episódios que relata, destacando-se que enquanto Joaquim Álvaro parecia um autêntico cavaleiro todo armado, dizia o Dr. Silva Pinho: «Eu ia noutro cavalo, quase inerme apenas munido de um belo punhal de Toledo, que eu trouxera da feira do Beco de 1 Fevereiro de 1847 e aí fora apreendido a um obstinado patuleia que assassinara um soldado da divisão do duque de Saldanha.»
Há descrições de outras pessoas, que, penso, não despertam muita curiosidade. Aqui apresentamos os seus nomes, apenas por uma questão histórica e que eram o Manuel Domingos Ramos, o Póvoas e o Caetano da Palhaça, Havia ainda outros criados que eram o Serra e o Branco. Quem se destacava deste grupo era o Póvoas, «prático naqueles caminhos, para todos os outros desconhecidos».
Esta jornada fora calma, sem sobressaltos. Subiram montanhas, andaram em planos, desceram locais íngremes, era ainda noite e não se via nada das povoações e da paisagem. Ao alvorecer da manhã, torneava tal caravana a serra do Giestoso, que começava a alumiar o santuário de Nossa Senhora da Saúde, erguido no cume do monte. Desceram para o vale, de Cambra, populoso, chaminés fumegantes, muito gado a pastar nas várzeas e nas encostas.


Ali pararam, descansaram e passaram o dia, «almoçando e jantando na locanda asseada que nos regalou com uma pousada muito agradável.»
Seguiram depois, através de montanhas e vales, em direcção a Fermedo. Até que já se notava o sol pôr-se quando passaram em Cabeçais, a tal localidade onde perto devia morar a senhora a quem seria entregue uma carta de apresentação de D. Matilde Máxima, de Soutelo.
Com a presença de tal caravana, nada habitual por aqueles sítios, formou-se um bando de curiosos, que se iria tornar fatal para o Visconde e sua comitiva. O Dr. Silva Pinho há-de relatar mais tarde esta coincidência, quando inclusivamente pedia lume, para acender um cigarro, «porque, nesse tempo, os fósforos ainda eram raros em Portugal.»
O tutor das meninas «desconfiava sempre e tinha o preságio de que o Grupo de Cabeçais ainda lhe havia de trazer desgosto.» Embora preocupado, ainda exclamou que estavam em Covelas. E «o portão da quinta de D. Margarida Coelho da Rocha mostrava-se na sua forte gradaria de ferro.»
Para aí se dirigiram, e um dos criados bateu, a chamar. Ninguém respondeu dentro da quinta. Depois de um tempo passado, bateu novamente. O silêncio manteve-se. Só à terceira chamada é que alguém se fez ouvir, de dentro, com uma voz grosseira a pergunar, mas sem abrir:
- Quem é? Donde vem? Para onde vai?


E o portão abriu-se finalmente! Apearam-se e só depois de um longo tempo de espera é que apareceu uma senhora (D. Margarida), já «entrada» na idade, modos graves e distantes, olhar de desconfiança, mas vivo e inteligente.
Após uma intervenção de Joaquim Álvaro, desculpando-se e dizendo quem era, apresentou a carta de D. Matilde Máxima, do Soutelo, que leu com muita atenção, mas sempre desconfiada, dando apenas sinais de se lembrar.
A senhora, quando lhe foi apresentado o Dr. Silva Pinho, respondeu secamente, apesar de ter estado com ele na Torreira, em 1831, com um tio, Manuel da Silva d'Almeida, de Pessegueiro e de ter convivido com ele durante a sua permanência na praia, vieram no mesmo barco, apanharam frutos silvestres, depois de terem desembarcado na Foz, no rio Vouga. E a senhora, sem se desmancahar, respondeu ironicamente (digo eu):
- Tenho uma ideia!...
O Dr. Silva Pinho, acrescentou ainda que em 1838 e a pedido de seu tio, levou para o dr. Coelho da Rocha, lente da Universidade, que tinha sido seu professor, uma carta sua. E acrescentava o Dr. Silva Pinho: «Essa carta serviu-me muito no meu exame de latim, no Pátio.» E a D. Margarida, volteu a responder impassível:
- Tenho uma ideia...

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Ficamos por aqui com as vagas ideias da D. Margarida Coelho da Rocha, em casa de quem se hospedaram, após minucioso e prolongado teste de observação desta senhora, e onde o Visconde e o Dr. Silva Pinho iriam passar as grandes tribulações desta espantosa e interessante aventura.


sexta-feira, 19 de março de 2010

A Junta de Freguesia na história - 26

A prisão de Alberto António Henriques




Tínhamos referido antes que um cidadão de Aguieira, de nome Alberto António Henriques, havia feito uma contratação com a Junta, descrita e assinada em acta, mas com total incumprimento das condições que tinham sido estabelecidas.
Perante tal incumprimento à Junta só restou levantar os respectivos autos e exigir daquele o que legalmente estava estipulado. Os valores envolvidos ainda eram de certo vulto para aquele tempo do princípio do século XX. Enveredava-se pela via judicial.
Tinha uma expectativa, como dizia antes, em ver o epílogo desta situação, cuja pesquisa a ela ainda não tinha chegado.
Consultadas algumas actas, ficamos surpresos porque, em 17 de Dezembro de 1911, diz a acta da sessão da Junta realizada nesta data:


«Atendendo a que o cidadão Alberto António Henriques, domiciliado em Aguieira, se acha preso, e por isso inibido de liquidar imediatamente as contas com esta Comissão Administrativa, quer por transgeressão das posturas da Junta de Paróquia, quer pelo exercício da indústria de adobos no areeiro do Vale da Enguia e ainda pelo 'aluguel' (sic, mas existe) de terreno contíguo ao mesmo areeiro, para secadouro dos mesmos adobos e em vista da liquidação por transgressão de posturas ter de ser feita judicialmente, conforme foi deliberado em sessão extraordinária de vinte e quatro de Setembro do corrente ano, deliberou esta Comissão arbitrar ao dito cidadão Alberto António Henriques a quantia de cinquenta mil reis para liquidação amigável de todas as suas contas com a tesouraria da Junta, reservando-se porém o direito de procedimento judicial, se dentro do prazo de trinta dias não tiver mandado liquidar as mesmas contas.»

Perante esta descrição, ficamos a saber que o transgressor havia sido preso. Nesta situação, a acta deixa entender que não tem grandes hipóteses de obter e fazer cumprir os autos levantados porque aquele não cumpriu com o estabelecido no caso dos adobos, que fabricou, que vendeu, dos quais recebeu valores e a Comissão Administrativa, em 1911, resolve o problema com 50 mil réis (qualquer coisa parecido com 50 escudos antigos).
É um caso pitoresco e, de alguma forma, inédito, quer para o tempo, quer para a própria freguesia. A acta não esclarece o motivo que originou a sua prisão. E talvez não interessasse mencioná-lo.
Continua ainda na nossa curiosidade, em saber quem seria este cidadão de Aguieira.
Vamos lendo e vendo...

quinta-feira, 18 de março de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
O livro - VII

Esta é a conhecida Ponte de Pessegueiro, por onde passava o comboio. A que é citada no livro, é um pouco mais acima desta

Vamos tentar dar mais uns passos na história das Meninas Mascarenhas, uma narrativa, relembra-se, do Dr. José Joaquim da Silva Pinho, existente num livro editado pelo jornal paroquial «Valongo do Vouga», em Abril de 1984, de que foi director o Rev. Padre António Ferreira Tavares.

Deixamos o Dr. Silva Pinho na sua chegada a Paradela, a casa do cirurgião Agostinho Graça, com a decisão de continuar, ao outro dia, a fuga dos Bandeira da Gama, regressando D. Ana teles à casa do Cimo da Rua, em Aguieira, após passar por Soutelo e daqui para Aguieira, pelo lugar do Moutedo. Caminhos daquele tempo.

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Na casa de Soutelo, familiares do Pacheco Teles de Aguieira, havia uma senhora, D. Matilde Máxima Teles, que ofereceu àquele uma carta de apresentação para uma senhora, das suas relações e amizade, residente na quinta de Cobelas (mais adiante aparece no livro o nome desta localidade escrita Covelas), em Cabeçais, pois na noite seguinte tencionavam lá pernoitar.
A destinatária da carta de D. Matilde era de nome Margarida Coelho da Rocha, irmã «do sábio mestre Coelho da Rocha, lente da Universidade de Coimbra» e que tinha sido professor do Dr. José Joaquim da Silva Pinho, sobrinha de um célebre abade de Pessegueiro, Manuel António Dias S. Tiago, «que mandou construir à sua custa a bela ponte de três arcos que atravessa o Vouga, e por onde hoje passa a estrada de Aveiro a Viseu, e que é um monumento da ciência de construção e um desafio à soberbia da engenharia moderna, ao mesmo tempo que é um padrão do seu génio de patriota e da sua alma de verdadeiro benemérito.»
A D. Margarida Coelho da Rocha viveu alguns anos com o seu tio, abade de Pessegueiro, tendo sido contemplada vantajosamente no generoso testamento de seu tio. Esta, com D. Matilde Máxima, de Soutelo, tinham criado relações de boa vizinhança e amizade.
Aquela carta que levavam poderia ser a chave que abriria as portas de uma grande e amiga casa, após tantos perigos em que se viram envolvidos.
Desde Aveiro, dizia o Dr. Pinho, tinham seguido o rumo Nordeste. Na manhã seguinte seria a direcção norte. Eram três horas da madrugada e já todos estavam a pé em casa do cirurgião de Paradela. Foram as despedidas entre quem ficava e os que partiam, com D. Ana Teles a dar um útimo e afectuoso beijo nas suas pupilas e companheiras de convento, «de quem se despediu a chorar, enternecida». E partiram para norte, em direcção ao Porto.

Eclesialmente

Alberto Vaz da Silva e a questão de Deus


Intervenção de Alberto Vaz da Silva na mesa-redonda «Deus: questão para Crentes e não-Crentes», organizada pela comunidade da Capela do Rato (Lisboa).
É preciso olhar para os episódios da Bíblia como se fossem experiências vividas por nós, e não experiências que se passaram há séculos, que já ouvimos descrever 50 vezes. Cada pessoa tem uma filha de Jairo, um paraplégico, um cego de nascença dentro de si própria. Em vez de palavras sábias e filosóficas, temos de pensar em imagens.




Pode ver este comentário e, principalmente, o vídeo, no SNPCultura, aqui

Nota: Como estamos em plena vivência da Páscoa, penso que não fica mal aqui estas opiniões de pessoas com conhecimentos e vivências várias para as ouvirmos, como a do Ricardo dos «Gato Fedorento» que está antes. Não quer dizer nada, mas faz bem ouvir, porque também é uma virtude saber ouvir, principalmente as pessoas com outras visões da vida e do que entendem sobre o mundo e o que fazem nele.

quarta-feira, 17 de março de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
O livro - VI


O rio Vouga na actualidade, próximo de Carvoeiro



Deixamos a narrativa do Dr. José Joaquim da Silva Pinho no momento em que ele regressava do rio Vouga a casa, e arrumava os papeis no seu escritório, preparava a mala e, como dizia, «ia seguir o seu destino».
O seu destino seria, ao outro dia, seguir para Paradela, até casa do cirurgião Agostinho Graça. Mas, antes da sua chegada, houve cenas aflitivas em sua casa, dado o seu envolvimento neste caso dos Pacheco-Teles. Dizia que seu pai era um fanático e dedicado amigo da família de Aguieira e, com este sentimento, queria que ele, jovem ainda, participasse e acompanhasse esta família «no lance em que estava empenhada», ainda que uma desgraça viesse.
A mãe do Dr. Pinho tinha conhecimento de alguns incidentes que já tinham ocorrido e pretendia que se deixasse de mais aventuras e sacrifícios. Os senhores de Aguieira que se arranjassem como entendessem e que deixassem em paz a pacata e boa gente de Jafafe.
Suplicou, pediu, ordenava que não partisse nesta aventura. Mas o Dr. Pinho lá foi a cavalo, pelas três horas da tarde do dia 16 de Janeiro [cremos que de 1847], tendo chegado a Paradela, a casa daquele cirurgião, já a noite caía, depois de ter feito uma longa travessia de serras.
Sua mãe ficou a rezar pela sua sorte.
Até que chegou próximo da povoação e ouviu, a distância, uma voz:
- Silva!
- Escura!... respondeu.
Era alguém da casa do cirurgião que vinha ao seu encontro, procurando-o, pois havia muito que o esperavam em Paradela e ele demorara-se bastante. E aqui novamente a senha e contra-senha que estava combinada.
Chegado a casa do cirurgião Agostinho Graça, esperavam-no Joaquim Álvaro e toda a equipa. Ali realizaram um conselho, com a presença de Joaquim Álvaro, D. Ana Teles e seus sobrinhos João de Figueiredo, Guilherme Teles e D. Matilde Máxima Teles. Estes viviam na quinta de Soutelo, da freguesia de Macinhata, e que sabendo do que se passava foram até Paradela.
Ficou estabelecido que D. Ana Teles, mal podia seguir com todos, dado que se sentia doente e mortificada pelos trabalhos, canseiras e medos sofridos nos dias anteriores, regressaria a Aguieira, mas antes iria permanecer no lugar de Soutelo e daqui, descendo por Moutedo, iria até Aguieira. Aliás, este estratagema tinha também em vista desviar as atenções dos perseguidores, que, diz-se, os despistaria, ao verem que a senhora que acompanhava e era responsável pelas meninas estava na casa do Cimo da Rua, pois tinham espias por todo o lado e levariam esta notícia aos Bandeira da Gama.

terça-feira, 16 de março de 2010

Eclesialmente

Ricardo Araújo Pereira e a questão de Deus


Intervenção de Ricardo Araújo Pereira na mesa-redonda «Deus: questão para Crentes e não-Crentes», organizada pela comunidade da Capela do Rato (Lisboa).

1.ª parte: "Para nós, ateus, a morte é um sono sem sonhos e nós continuamos com um mau perder em relação a isso. Não é fácil. E por isso, onde é que eu vou buscar conforto? À Bíblia (não sei se já ouviram falar). Especialmente a um dos meu livros favoritos, que é o do Eclesiastes."

2.ª parte: "[No livro do Eclesiastes] o tempo e o acaso acontecem a todos por igual. Era uma óptima pessoa – morreu. Era uma péssima pessoa – morreu também. (...) Eu juntei uma enorme fortuna – morri. Eu adquiri imenso conhecimento – morri a seguir. Eu fui muito bom para o meu semelhante – morri. Fui péssimo para o meu semelhante – morri também.” (...) “O trabalho de humorista é fazer as pessoas rirem-se do facto de, por mais maquilhagem que ponham na cara, é àquele estado que vão chegar.”


Fonte: SNPCultura, clicando aqui... E veja os vídeos!
Se ouviu e viu os vídeos da palestra de Ricardo Araújo Pereira, não temos mais comentários a fazer. Nem são necessários. É a realidade, que ele, Ricardo, também percebe e que nos coloca... a nós, crentes e não crentes... servida de bandeja... um dia!

segunda-feira, 15 de março de 2010

A Junta de Freguesia na história - 25

O areeiro do Vale da Enguia - As multas



Nota: - Deve começar a ler o post anterior (24 ) se ainda não leu


Fechamos este naco histórico da Junta de Freguesia, que relata uma desavença em que estão envolvidos o arrendatário do areeiro, no qual se produziam adobes para construção e a Comissão Administrativa da Junta de Paróquia. Continuamos com o conteúdo da mesma acta, agora para descrever o que a Junta determinou quanto às penalidades por incumprimento do arrendatário. Isto, para terminar aqui esta questão curiosa e ao tempo demasiadamente grosseira e peculiar. E que deve ter tido bastante repercussão. Diz a acta de 24 de Setembro de 1911.

«Continuando na apreciação do procedimento do referido Alberto António Henriques para com a dita Comissão Paroquial Administrativa, e informando o presidente que por duas vezes lhe havia mandado aviso para que desse cumprimento ao artigo quinto das Posturas da Junta, o que desde treze de Agosto do corrente ano não tornou a fazer, e não o fazendo ainda, depois de para isso ter sido avisado, e sabendo-se que tinha já feito venda de diferentes porções de adobos, estando portanto incurso nas penalidades do artigo nono das mesmas Posturas, visto que não só não deu nota, em harmonia com o artigo quinto, mas que também tratava de os ir vendendo, com o fim de iludir a Junta na fiscalização, caso esta fosse contar os adobos ao areeiro, atendendo a todos estes casos sofismados de dito industrial Alberto António Henriques, deliberou mais esta Corporação impor-lhe a multa de que trata o artigo nono das Posturas desta Junta, multa que recai sobre quatro mil setecentos e noventa adobos e que importa em setenta e um mil oitocentos e cinquenta reis, sendo-lhe passado um aviso para que dentro do prazo de cinco dias viesse pagar na tesouraria da Junta esta quantia e mais três mil duzentos e sessenta e cinco reis da primeira remessa que fez e deu cumprimento às Posturas, prefazendo um total de setenta e cinco mil cento e quinze reis, determinando-se que, caso ele nao venha pagar neste prazo, se proceda a execução judicial, visto ele ter feito espalhar que não a paga e que há-de enrodilhar a Comissão Paroquial Administrativa.»

E lá termina a acta com os formulários habituais, não faltando, neste caso, qualquer assinatura dos presentes nesta sessão. Penso e devo frizar que este indíviduo que se apresenta com este contencioso, em 1911, com a Junta de Freguesia, residente em Aguieira, não tem nada a ver com família actualmente residente em Arrancada, com o mesmo nome. Será, concerteza, mera coincidência e trata-se, admitimos, de outra pessoa.
Ficamos curiosos por saber o desfecho desta contenda, assaz violenta nos propósitos e nos termos em que é apresentada. Vamos pesquisar, pois ainda não temos em nosso poder qualquer elemento esclarecedor.

A Junta de Freguesia na história - 24

Vale da Enguia - Incumprimento das Posturas dos Adobos



No número 22 desta série histórica sobre a Junta de Freguesia de Valongo do Vouga, tínhamos publicitado que o arrendamento do areeiro do «Vale da Enguia», na Veiga, foi feito por licitamento público, entre dois arrematantes, a Alberto António Henriques, residente em Aguieira.

Imagem de uma parede de adobos (também se pode chamar adobes), adaptada de Wikimedia.org


Mas a acta de 24 de Setembro de 1911 relata, em termos que deixam, sem margem para muitas dúvidas, algumas provas do incumprimento acentuado das condições de arrendamento por parte do arrendatário Alberto António Henriques, foi convocada uma sessão extraordinária, para as nove horas da manhã pelo seu presidente, «a fim de resolver sobre a atitude a tomar em face da transgressão das Posturas desta Junta de Paroquia, pelo industrial de adobos, Alberto António Henriques, casado, domiciliado em Aguieira.»

«E aberta esta sessão, depois de lida, aprovada e assinada a acta da sesão anterior, pelo referido presidente, cidadão João Baptista Fernandes Vidal, foi novamente exposto o motivo da convocação, sendo devidamente apreciadas todas as fases por que o referido cidadão Alberto António Henriques, se tem apresentado perante esta Corporação, ora provocador e arrogante, ora ameaçador, ora humilhante e pretendendo iludir a boa fé dos membros desta corporação, com a sua refinada malícia e má fé, servindo-se para isso de todos os meios e expedientes, faltando ao que promete e transgredindo as Posturas desta Junta de Paróquia.

Em vista desta atitude intolerável para com uma Corporação Administrativa, que só tem procurado conciliar os interesses de todos e zelar e bem administrar os bens da paróquia procurando sempre fazer justiça a quem a tem, e a fim de manter o p+rincípio da autoridade, que de modo nenhum pode estar sujeito aos vais-vens de qualquer desordeiro de ofício, que tem trazido esta pacata freguesia em constantes sobressaltos, - deliberou esta Comissão Paroquial Administrativa autorizar o seu presidente para representar esta Corporação em juízo, a fim de se proceder contra o mesmo Alberto António Henriques, pela transgressão das Posturas desta Junta, conforme dispõe o parágrafo único do artigo nono das mesmas Posturas.»

A mesma acta deixa ainda para a história outras referências e factos sobre este assunto, que deixamos para um próximo capítulo. O que não se deixa de evidenciar, como se diz no início, é a forma violenta dos termos utilizados para justificar um comportamento inaceitável por parte daquele cidadão residente em Aguieira, tentando demonstrar o mau carácter que o mesmo possuía. É pelo menos para nós, a esta distância no tempo, que se antevê e se perspectiva o feitio do "cavalheiro" pela descrição contida na acta. Que já não incomoda ninguém...

sábado, 13 de março de 2010

A Junta de Freguesia na história - 23

A extinção da Confraria do Santíssimo Sacramento



Antes de voltarmos ao areeiro do Vale da Enguia, nos limites da Veiga, referimos apenas uma passagem, respeitando a cronologia das datas das actas da Comissão Paroquial Administrativa de Valongo, que no dia 6 de Agosto de 1911, esta Comissão reuniu, na presença, entre outros, do Administrador do Concelho, Dr. Eugénio Ribeiro, a fim de receberem todos os bens, alfaias e outros valores da referida Confraria.

Este facto, foi sublinhado que estava devidamente legalizado por alvará datado de 21 de Julho de 1911, do Governador Civil.
A reunião realizou-se numa casa da escola do sexo masculino de Arrancada, que servia de sede da Junta de Freguesia. Foi lavrado o termo respectivo desta entrega.
O que quer dizer, que a Confraria terá sido, oficialmente, extinta em 21 de Julho de 1911.

Os valores naquela acta descritos, eram os seguintes:
- Uma inscrição de dívida interna fundada do capital de quinhentos mil reis;
- Uma inscrição de dívida interna fundada do capital de um conto de reis;
- Dinheiro: - Saldo de contaas de gerência do ano economico de 1910 a 1911, cujas contas ainda estavam dependentes de aprovação superior, 19.360 reis.
A Comissão Paroquial Administrativa depois de verificar e conferir todos os valores constantes do respectivo inventário, e achando tudo regular, tomou posse destes, que ficam pertencentes à Junta de Paróquia, desta freguesia de Valongo.
E a acta termina com a assinatura dos membros da Junta, não constando, apesar de ser dito no conteúdo da referida acta, que o Administrador do Concelho também assinava, bem como o juiz da extinta Confraria do Santíssimo, sendo enviados duplicados a algumas autoridades, nomeadamente ao Governador Civil.

Em resumo: o que me parece é que esta transferência, era, sem mais nem menos, a pretensão de uma separação de poderes, apenas contém no inventário os valores financeiros existentes. Nada mais consta na acta que tenha sido transferido para as novas autoridades. Parece-me, porque não tenho mais conhecimentos, uma certa usurpação, sem estipulações legais que estabelecessem regras para essa transferência. Mas a esta distância, o que importa para o caso? Só história...
Se os fundos eram a base da administração paroquial, também não estranho nada que os mesmos deviam continuar com a novas autoridades.
É que está dito que seriam transferidos todos os bens, alfaias, etc...
Estes não aparecem no inventário da acta!

A história local

As Meninas Mascarenhas
O Livro-V
.......

Ponte ferro-rodoviária em Sernada. Por este local, ainda a ponte não existia, passaram as Meninas Mascarenhas em direcção ao Rodo-Esmarrida-Paradela.

Deixamos a descrição do livro das Meninas Mascarenhas no momento em que o Dr. José Joaquim da Silva Pinho, envolvido no caso das órfãs do Sobreiro, estava junto do rio Vouga, quando lhe surgiu uma pessoa de Brunhido, que gritava alto e em bom som, «SILVA», ao que aquele respondia, «ESCURA». Era a senha e contra-senha para se poderem reconhecer.
O indivíduo de Brunhido chamava-se José Rodrigues Branco.
Como não temos a intenção, nem podemos estar a transcrever todo o livro, não só por contingências de ordem legal, como pelo espaço e quantidade de artiguinhos que aqui nunca mais teriam fim, vamos contando uma ou outra história ou facto mais pitoresco que o desenrolar dos acontecimentos nos possa ir apresentando.
Contava o Dr. José Joaquim da Silva Pinho, ainda quando estava no referido local após o encontro com o homem de Brunhido, falando-lhe para o outro lado da margem a informar o Branco de que estava tudo bem e que fosse dizê-lo a Aguieira. E transcreve-se: «O José Branco partiu à desfilada, galgando os ásperos caminhos com as boas novas que levava.», como dizia no último capítulo, no dia 8 de Janeiro findo.

Como aqui já contei, na fuga de Aveiro, por Eixo e Requeixo, foi montada uma guarda em Eirol, talvez próxima da estação actual da CP, ali à beira da «Ponta da Rata», conformando-se tal estratégia com a possibilidade de as fugitivas e seus acompanhantes poderem aparecer rio Vouga acima, vindos de Aveiro.
Foram ludibriados. As Meninas e acompanhantes foram para Requeixo. Mas por terra. Daqui, de barco, desceram o rio Águeda, até à confluência com o Vouga, passando o dito barco pelas sentinelas ali colocadas estratégicamente.
Mas nunca imaginaram que os fugitivos vinham dos lados de Águeda! Impossível! Estratégia perfeita e segura.
O barco passou, virou à direita na referida confluência e toca de andar, Vouga acima, até Carvoeiro. É aqui que se encontram o advogado de Jafafe, as meninas fugitivas e restante comitiva.
E dizia o Dr. Pinho que o barco de Requeixo pouco se demorou no Rodo (próximo de Carvoeiro). E acrescentava isto: «Eu tinha recomendado ao tio Filipe, que acompanhou os barqueiros na fácil descida do rio, que pedisse ao meu pai que mandasse ao Rodo uma bateira, com dois homens reforçados e fieis, e que ali devia estar às quatro horas da tarde para conduzir as Meninas à Esmarrida. A essa hora, a bateira estava no Rodo, levada por dois homens válidos e destemidos. Meu pai não se limitou a mandar a bateira e escolher os tripulantes, foi ele também.»

Logo após a paragem desta bateira no Rodo seguiram para a Esmarrida, onde chegaram já de noite, pois era difícil a travessia entre os caneiros que enchem o rio Vouga naquela altura com a agravante da corrente custosa de transpor, pelo caudal que continha.
Após a travessia, as Meninas foram conduzidas a Paradela, em carro de bois, por uma grande e íngreme ladeira onde pernoitaram em casa do cirurgião Agostinho Dias da Graça, que já sabia da chegada da caravana à sua casa de habitação, junto à igreja daquela povoação.
O Dr. Pinho, exímio conhecedor de bateiras, porque frequentemente se dedicava à pesca, nomeadamente da lampreia, vem rio abaixo, com seu pai e os homens valentes da sua confiança, pois no dia seguinte devia estar em Paradela para acompanhar as perseguidas (o termo é dele) até ao Porto, não sabendo o tempo que gastaria na peregrinação que ia começar. Arrumou os seus papeis no escritório, bem como a sua mala e ia seguir o destino em que se empenhara.

Nota: - O último apontamento desta história foi colocado neste blogue no dia 8 de Janeiro de 2010.

quinta-feira, 11 de março de 2010

AS CINZAS DA QUARESMA

Sermão de Quarta-feira de Cinzas

Excertos da leitura do Sermão de Quarta-feira de Cinzas, do P. António Vieira, lidos pelo actor Luís Miguel Cintra na Igreja de Santa Isabel (Lisboa), a 4 de Março de 2010.

Duas coisas prega hoje a Igreja a todos os mortais, ambas grandes, ambas tristes, ambas temerosas, ambas certas. Mas uma de tal maneira certa e evidente, que não é necessário entendimento para crer; outra de tal maneira certa e dificultosa, que nenhum entendimento basta para a alcançar. Uma é presente, outra futura, mas a futura vêem-na os olhos, a presente não a alcança o entendimento. E que duas coisas enigmáticas são estas? Pulvis es, tu in pulverem reverteris: Sois pó, e em pó vos haveis de converter. Sois pó, é a presente; em pó vos haveis de converter, é a futura.



Pode ler mais e ver vídeo no SNPCultura aqui

A Junta de Freguesia na história - 22

O areeiro da discórdia

Neste capítulo da história com que se viu confrontada a Junta de Freguesia depois da República, mais concretamente em 1911, a sua origem estava num areeiro no sítio denominado, como ainda hoje é, de «Vale da Enguia», nos limites do lugar da Veiga.

Como este facto histórico se relaciona com a Veiga, nada melhor que a ilustração com a capela de Nª Sª das Pressas e do Sr. dos Remédios, o ex-libris do lugar, século XVII.

Era um local com areia de construção e com a qual eram fabricados os adobos que serviam para fazer parede de casas de habitação, muros, etc. Na freguesia esta actividade foi de grande evidência, tendo-nos passado pelas mãos, bem como de outros companheiros os pesados adobos de construção. Dada a qualidade do material, aquele terreno, baldio e, como tal, da responsabilidade da Junta de Freguesia, tinha de sofrer algumas mudanças para a sua correcta e justa utilização.
Daí ter surgido uma postura, legalíssima para o tempo e as leis vigentes, pois de outro modo, parece, as desavenças entre concorrentes era constante e nada condizente com algum civismo que deveria perdurar.
Nota-se o interesse pela actividade e pelo local, quando na sessão onde as posturas são discutidas comparece grande número de pessoas da freguesia. E nota-se que terão existido acaloradas e prolongadas discussões, pois a sessão começou pelas quatro horas da tarde e só terminou pelas seis e meia da tarde, como se salienta na acta.
Deve ser esclarecido, para além disto, que as posturas nem estão demasiadamente extensas, pois são constituídas por dez artigos e dois parágrafos, todos eles de redacção simples e curta.


*****

Após a legalização da utilização do areeiro, procedeu-se, em 23 de Julho de 1911, o seu arrendamento por licitação em hasta pública. Nessa sessão, também se presume ter estado presente bastantes pessoas, embora tal facto não seja realçado.
Começa por apontar algumas condições a que o arrematante ficaria obrigado, nomeadamente às disposições das Posturas de de 5 de Junho de 1911 e mais algumas que estão devidamente explicitadas na acta. Essa licitação dá a entender que não teria limite, era anual, e a Junta obrigava-se a dar o terreno «desembaraçado no dia vinte e quatro do corrente, ao meio dia, ocupando-o o arrematante até 31 de Dezembro, podendo prorrogar-se este tempo até 31 de Maio de 1912».
A acta identifica que apareceram dois licitantes, sendo um o já mencionado Alberto António Henriques e António de Almeida Carvalhoso, «que ofereceram lances diversos, sendo por último entregue o terreno ao licitante, Alberto António Henriques, casado, administrador da Casa d'Aguieira e nesta povoação residente, pela renda fixa de onze mil reis» e que se obrigava a cumprir aquelas condições e as que constavam nas ditas Posturas.
O curioso é que ficavam os bens deste devidamente salvaguardados para cobrir qualquer incumprimento durante a relação do arrendamento. E este paroquiano de Valongo do Vouga, para que tudo ficasse nos conformes, assinava também, como lá consta, a respectiva acta.
A seguir surgem as desavenças, que são imputadas ao arrendatário, conforme consta nas actas e que se irá tratar a seguir.

quarta-feira, 10 de março de 2010

A Junta de Freguesia na história - 21

As primeiras posturas da Junta


Tivemos a oportunidade de ler a acta de uma sessão extraordinária da Junta de Freguesia, realizada no dia 5 de Junho de 1911, chamada Comissão Administrativa Republicana da Freguesia de Valongo do Vouga.
Nela há indícios de se constituir, em Valongo, o primeiro Código de Posturas, que em linguagem vulgar é uma espécie de legislação que a Junta pode aprovar, mas que, naquele tempo, tinha de subir até ao Governador Civil, para que este, verificando-a, não encontrasse nela anomalias de ordem legal e a oficializasse relativamente à sua aplicabilidade no território da freguesia.
Também se nota que nesta sessão, «foi deliberado, com aplauso do inúmero público assistente, que, em vista de terem por vezes surgido clamores e até se terem levantado conflitos, por causa da tiragem d'areia dalguns areeiros públicos desta paróquia para a indústria de adobos, fosse lançado sobre esta indústria um imposto, quando exercida em qualquer areeiro da paróquia e se regulamentasse a tiragem de areia desses areeiros, nos seguintes termos:»

*****

Segue-se o articulado do regulamento de posturas sobre este assunto, de redacção bastante interessante em todos os aspectos; técnicos, sociais, jurídicos e públicos. O Presidente, prof. João Baptista Fernandes Vidal, no canto superior esquerdo desta acta, escreveu com tinta vermelha que «estas Posturas foram aprovadas pelo Governador Civil de Aveiro em 26 de Junho de 1911«.
Uma outra questão que aqui se pode verificar, terá sido a grande afluência de público, porque talvez fosse prenúncio de que na realidade a feitura, já em termos industriais, dos adobos era coisa que interessava a muitos e a aquilo andava um tanto ao Deus-dará de hipotéticos oportunistas.
Havia taxas por adobo, ou por milhar de adobos feitos e vendidos. É interessante o artigo 7º, que diz: «Todo o individuo pode, sem autorização da Junta, tirar até cinco carros de areia por ano para quaisquer concertos (é assim que está escrito) que necessite». Tem um parágrafo único que reza assim: «Se esta porção não for suficiente para as obras que tem a fazer, assim o declarará à Junta, que autorizará a tiragem daquela que for necessária para a conclusão das obras, incorrendo, porém, nas penalidades do artigo nono e seu parágrafo único se forem falsas as suas informações e a tiver tirado para exercer indústria clandestina».
Voltaremos a historiar esta acta, com outros pormenores inéditos, chegando a ser origem de um conflito, com alguma gravidade, entre a Junta e o Sr. Alberto António Henriques, de Arrancada, que a seu tempo contaremos.

terça-feira, 9 de março de 2010

Os nossos emigrantes

Uma história de vez em quando


Local de todos conhecido. Panorama geral da igreja paroquial de Valongo

Gostava, mas talvez não tenha grandes possibilidades, de historiar aqui alguma coisa da vida e obra dos nossos emigrantes. Principalmente os da freguesia e arredores.

Como tornear esta questão?
Para já, não sei...
Mas penso que se houver alguém que leia isto, quer seja ou esteja cá, quer todos aqueles que estão na diáspora (quer dizer todos os que estão radicados fora do seu torrão natal) nos ajudem a obter a sua biografia.
Se são de cá, alguma biografia havemos de arranjar. O que temos, depois, é de construir «a sua história», o seu percurso, o que se passou e por que passaram todos esses heróis, alguns deles a merecer muito mais destaque, porque trabalharam para serem aquilo que hoje são.
Não sei se esta ideia é demasiadamente arrojada ou até não muito bem acolhida por alguns.
Seja como for, penso que estas «Terras do Marnel» não são, nem se ficam, só por aquilo que as notícias difundem ou por «estórias» de alguns acontecimentos, estes, normalmente, de tendência negativa que, por acaso, têm sido raros ou nulos.
Se aparecer alguém, tem na frente do blogue o correio electrónico por onde pode contactar e dizer de sua justiça.
Cá fico na expectativa...

Coisas da Guiné - 25

Tínhamos, desde há muito, decidido que o que dissesse respeito à Guiné, por onde andamos nos anos sessenta, seria conhecido com o título de «COISAS DA GUINÉ»
Penso que não havia mal algum chamar-se assim. Mas também admito que ficará melhor passar a ser conhecida esta secção como «Curiosidades da Guiné», pois na realidade para todos nós (até para mim) a Guiné era sempre constituída por curiosidades. Por isso, vamos hoje relembrar uma dessas curiosidades daquelas gentes, que chegou a ser publicado no «Jornal da Caserna» (um jornal da CCaç. 462), em Outubro de 1964, com o título:


Hospital Militar em Bissau. Aqui não se faziam partos, porque todos os que, infelizmente, lá davam entrada eram militares. Só muitos anos depois é que passaram a existir mulheres nas Forças Armadas da Guiné, especialmente na Força Aérea, nas fnções de enfermeiras paraquedistas. Os que estão na foto, dois são da freguesia de Valongo e um terceiro da freguesia de Espinhel, do concelho de Águeda. Um deles, natural de Arrancada e o outro do Casainho, eram «funcionários do Hospital»
O PARTO NOS BIJAGÓS
Como sabemos, existem diversas raças de índigenas na Guiné. Cada qual tem os seus costumes próprios e também alguns que sendo comuns a várias outras raças, não deixam por isso de ter certas características que lhe dão individualidade. Muito resumidamente, vamos ver algumas noções curiosas àcerca do parto na raça Bijagó.
A parturiente tanto pode ser uma rapariga solteira (campune) como uma mulher casada (ocanto), como é óbvio.
Tratando-se da primeira, quando está nas proximidades do parto recolhe a casa e manda chamar algumas "mulheres grandes" que possam servir de parteiras.

Uma dessas mulheres, e enquanto a parturiente vai enumerando o nome dos indivíduos com quem manteve relações sexuais até à altura do parto, conserva-se ao lado da cama, tendo na mão um molho de palha a arder, na ânsia de afastar os maus espíritos.
Se a parturiente é uma mulher casada, tal enumeração não se dá, pois se parte do princípio que a mulher é fiel ao marido (?!).
A seguir ao parto o recém nascido é lavado com água do mar, limpo de todas as sujidades e esfregado com óleo de palma. Cerca de três dias depois a mãe é levada a uma praia e lavada com água do mar.
No entanto, o mais vulgar entre as raparigas solteiras (campunes) é a provocação do aborto. Como o nascimento dum filho a coloca numa posição social diferente, embora continue campune, ela prefere resolver o problema da forma mais simples: elimina-o.
Esta resolução, ao mesmo tempo que tira a preocupação à rapariga, evita também problemas ao rapaz se acaso ainda não foi ao fanado.
É que está decidido que os rapazes antes de irem ao fanado não podem ter relações sexuais e admitir a existência de um filho antes da época própria, é admitir uma fraude àquele princípio.
Além disso, todo o filho que nasça antes do fanado deixa de pertencer ao pai, e até à mãe, e passa a pertencer aos pais desta.
Cremos que é apenas nos Bijagós que este costume se segue como o descrevemos.

DOC
(Dr. Ramiro Fernandes de Figueiredo)
(Ex.alf.mil. médico da CCaç. 462-Guiné 1963/1965)

A Junta de Freguesia na história - 20

Factos avulsos

Após a implantação da República, nota-se que há umas pequenas transformações na Junta de Freguesia, pelas características do conteúdo das suas actas. Socorrendo-nos apenas de alguns pequenos pormenores, a seguir descrevo os que podem constituir alguma curiosidade.
Em algumas actas, com relativa frequência, existem arrematações para venda de alguns bens perecíveis. Vamos ver em particular, pelo menos dois e ambos existentes no adro da igreja.

Foto: Manuel Teles in semanário «Mensageiro» da Diocese Bragança-Miranda, com a devida vénia

Sessão de 20/11/1910:
1) - Por meio de arrematação em hasta pública, deliberada a venda de uns arciprestes existentes no adro.
2) - Pôr a concurso o lugar de Coveiro, estabelecendo a Junta um ordenado anual, ficando como receita para a Junta as entradas e enterramentos. Os enterros e entradas passam a ser cobrados pelo tesoureiro mediante um documento passado pelo secretário e assinado pelo presidente, não podendo o coveiro enterrar ninguém, sem lhe ser apresentado o respectivo recibo.
Nota: - Nesta sessão, diz a acta que esteve presente o Regedor.

Sessão de 4/12/1910.
1) - Pela singularidade de que se reveste, pois idênticas a esta há bastantes deliberações do género (o que não admira), deliberado passar atestado de pobreza a Fortunata de Jesus, jornaleira, solteira, do lugar de Carvalhal da Portela, d'esta freguesia. É que tal singularidade vai ao ponto de ser uma pessoa do lugar onde resido desde 1967 e cheguei a conhecer a pessoa em causa. Só por isto é que evidencio o facto.
2) - Foi entregue o lugar de Coveiro a Patrício Dias Ferreira, deste freguesia, pela quantia de dezoito mil reis, ficando o dito Coveiro com o encargo de limpeza do cemitério e estipulando-se que a principiar em um de Janeiro de mil novecentos e onze.
Cada enterro de 1 a 7 anos paga de entrada a covagem quatro centos reis e daí para cima oito centos reis. (pois claro, já naquele tempo não eram nada meigos em taxas!)
E acrescenta que este presente o respectivo Regedor.

Sessão de 18/12/1910:
- Foi deliberado vender umas árvores existentes no adro por se encontrarem em completo estado de putrefacção.

Sessão de 8/1/1911:
- Oficiar à Câmara Municipal para ordenar o levantamento de matos e estrumeiras no lugar do Sobreiro.
Enalteço este facto, que parece não ter nada de especial a apontar, a não ser para relembrar que numa grande parte da população, se não mesmo a maioria, tinha o hábito (e a necessidade) de "produzir" matéria orgânica que servia depois para aplicação agrícola, sendo o adubo do tempo. Desta forma, junto das casas, mesmo à entrada, na sua grande parte e nas traseiras, o chão era coberto de plantas várias, entre elas o tojo, as rameiras, a caruma, as folhas de árvores, que com o tempo e humidade se deterioravam e depois eram carregadas nos carros de tracção bovina e levadas para as terras a cultivar.
Naqueles tempos não havia preocupação na preservação do meio ambiente, mas necessidade de deitar mão a algumas «invenções», já antes experimentadas durante décadas e tratar de «adubar» as courelas.

Sessão de 22/1/1911
- Deliberado distribuir a esmola doada por Manuel Joaquim Corga, legado aos pobres desta freguesia na importância de 31.500 reis, ficando distribuído da seguinte forma:
- Arrancada - 10.000 reis
- Aguieira - 4.000 reis
- Veiga - 3.000 reis
- Valongo - 5.000 reis
- Brunhido- 9.500 reis

segunda-feira, 8 de março de 2010

Ausência forçada

Acontece.... mas não devia!


Já de si, o que quer dizer, por natureza, mandrião (só às vezes), também acontecem outras coisas que ultrapassam as vontades.
Só cerca das 22 horas é que tive acesso à Internet, pois durante a tarde a ligação do router lembrava-se de acender uma luzinha vermelha, mas eu liguei para aquele número que nos consome o tempo, paciência, e aumenta o valor da factura da PT, que é o 707 22 72 76, e automaticamente foi-me comunicado que esta área onde me encontro estava com problemas e que os iriam resolver o mais breve possível, pedindo desculpa.
Também peço desculpa aos habituais visitadores, mas hoje, do que tinha preparado, já não há grande pachorra!
Até amanhã, meus amigos...

PS - Ontem, além de ter sido domingo, estive aqui perto, mas não à frente do monitor. Ausentei-me porque foi dia de família e de trangalhadanças com o meu neto... reguila... como os outros. Foi de fartar, até cair de sono!...

sábado, 6 de março de 2010

Coisas e Loisas - 15

A figura do Regedor

O Regedor da freguesia tem-me feito pensar, e procurar, por curiosidade, o que representava nesta nossa história recente, embora a extinção deste lugar, de funções públicas, tenha terminado há pouco tempo, mais concretamente em 1976, com a entrada em vigor da Consttiuição da República que resultou da Revolução do 25 de Abril que derrubou a ditadura.
É que o blogue encontrado «barcosaoalto» ao dar uma pequena resenha histórica desta figura, não aprofunda o que representava.

Conheci alguns regedores, que a seguir apresento, mas nunca me consumiu a ideia de verificar em que consistiam as funções legais de que estavam investidos. É isso que agora aqui trago, não para os mais velhos, mas para os mais jovens que, certamente, quase já não se lembram ou sabem o que foi o Regedor.
Pelos elementos que consegui obter, esta figura terá sido criada no ano de 1836 e penso que devem constar nas reformas administrativas de Mouzinho da Silveira. O Regedor era um funcionário público que representava a administração central junto de cada freguesia. Dependia e era da confiança do Presidente da Câmara Municipal.
Então o Código Administrativo de 1836 substituiu o comissário da paróquia que existia, pelo Regedor, com competências semelhantes. Estas competências foram-se modificando com o decurso do tempo, mas eram análogas às dos administradores de concelho.
Por um decreto de 1842 foi estabelecido um uniforme, constituído por uma casaca azul, com um ramo de carvalho de ouro bordado em cada uma das golas, colete de casimira branca, calças azuis, botas e chapéu redondo. A casaca e o colete teriam botões com as Armas Reais. O chapéu teria o laço nacional e uma presilha preta, na qual estaria gravado o nome da freguesia.
Nunca vi o sr. Manuel "regedor" da Veiga uniformizado desta forma. Este foi, na freguesia, o penúltimo regedor antes da extinção do cargo.
A última regulamentação dos regedores foi estabelecida pelos códigos administrativos de 1936 e 1940. Deixaram de ter o estatuto de magistrados administrativos, passando a ser os representantes dos presidentes das câmaras municipais e por estes nomeados.
As principais funções dos regedores era o de policiamento da freguesia. Para o desempenho destas funções tinham funcionários designados por "cabos de polícia". Os cabos de polícia foram diminuindo na sua importância, à medida que se foram alargando as áreas de intervenção da Polícia Civil (depois PSP) nas áreas urbanas e, depois, da Guarda Nacional Republicana, nas áreas rurais.
As funções num tempo não muito remoto eram também as de uma espécie de juiz, apaziguador nas divergências e questões entre pessoas, na resolução de desavenças, de desacatos e participá-los às autoridades mais próximas, neste caso a GNR, manter a ordem pública, enfim umas coisas interessantes que lhe davam um estatuto próprio e de alguma importância.
Como diz António Estima, na sua Monografia sobre Valongo do Vouga, páginas 204/205 os últimos regedores conhecidos na freguesia foram os seguintes:
-Desde 3 de Dezembro de 1907:
João dos Santos Ferreira Paula, efectivo; Adjuto Fernandes de Oliveira, substituto.
-Desde 7 de Março de 1908:
José Marques Pelicano, efectivo; Manuel Martins Saraiva, substituto.
-Desde 22 de Julho de 1910:
Adjuto Fernandes de Oliveira, efectivo; Augusto Simões dos Santos, substituto.
-Desde 7 de Abril de 1915:
Cirilo Simões dos Santos, efectivo; António Marques, substituto.
-Desde 26 de Janeiro de 1918:
José Simões Bandeira, efectivo; José Rodrigues Bandeira, substituto.
-Desde 22 de Fevereiro de 1919:
Manuel Simões Pinto, efectivo; Joaquim dos Santos Paula, substituto.
-Desde 5 de Março de 1938:
Augusto Simões, efectivo; Joaquim Correia (da Veiga), substituto.
-De 26 de Agosto de 1938 a 15 de Fevereiro de 1960:
Manuel de Almeida Branco Júnior (da Veiga), efectivo; Samuel Simões de Vasconcelos (de Arrancada), substituto.
-Desde 16 de Fevereiro de 1960:
António Gomes da Silva, efectivo; Cândido da Paz Corga (do Paço), substituto.
Admito que tenham sido estes os últimos que fizeram o "Termo de Juramento" de regedores da paróquia, na Câmara Municipal, que era como se designava ao tempo a sua tomada de posse.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Coisas e Loisas - 14

A figura do regedor

Estava, como de costume a deambular por este ciberespaço, quando reparo numa fotografia que me parece «familiar». E assim é. Essa fotografia é a que reproduzo a seguir e ela está num blogue com a denominação http://barcosaoalto.blogspot.com/. É seu autor João de Brito Sousa, residente no Porto, e esta foto está a ilustrar um artigo denominado a «Figura do Regedor». A este caso voltaremos.
Nem de propósito quando no post que antecede falo na figura do Regedor. Evidente que a foto é do Grupo de Folclore Infantil e Juvenil da Casa do Povo de Valongo do Vouga e está divulgada sabe-se lá por quem e por onde, às vezes, como esta, de forma incompleta.
Com a devida vénia ao sr. João Brito e Sousa e a propósito do Regedor e do Grupo de Folclore da nossa freguesia, aqui deixo o que este publicou.
.........
*****



Na realidade nos anos 1940-1950 o Regedor era o representante do Governador Civil, da confiança dele e por ele nomeado para a Freguesia. Era por isso tambem a Autoridade Policial. Era a ele que se dirigiam as queixas por desacatos, ele devia chamar a GNR para repor a ordem publica etc. A parte administrativa propriamente dita, certidões, obras públicas etc, era com o Presidente da Junta de Freguesia que era da confiança do Presidente da Câmara.
Regedor é a designação da autoridade administrativa de mais ínfimo grau, a qual funciona em cada freguesia, subordinada ao presidente da Câmara Municipal. O termo regedor servia outrora para designação de altos cargos. Assim regedor de justiça se chamava o magnate que presidia ao antigo Tribunal da Casa da Suplicação. O regedor da freguesia é qualquer cidadão apto a manter a ordem dentro da sua pequena circunscrição, livremente nomeado e exonerado pelo presidente da Câmara.
O regedor tem as suas atribuições no Código Administrativo e são de natureza eleitoral, administrativa e policial.
No actual ordenamento jurídico já não existe a figura do regedor.
Os Regedores eram nomeados pelos Presidentes das Câmaras Municipais, para as respectivas Freguesias.
Era uma "autoridade" civil da confinaça do Presidente da Câmara Municipal.
Nos arquivos das Câmaras Municipais deverão encontrar-se ainda o/os correspondentes "Alvarás" ou "Despachos" de nomeação e/ou exoneração.
As funções eram "multiplas"; estou a falar do que recordo:
- receber queixas de roubos, desacatos, .....
- informar a GNR do Concelho( a mais próxima)das diversas queixas.
- havia uma cadeia local, onde eram efectuadas prisões preventivas.
- receber as rondas da GNR à freguesia e atestar a sua passagem.
- informar e relatar às "autoridades" que o solicitavam, todo o tipo de "desordens".
As "autoridades" eram diversas, incluindo a PIDE/DGS.
- Em fim "uma pessoa de bem" que em primeira instância tentava manter o respeito, a ordem e a harmonia, junto da população da Freguesia.

Recolha de
João Brito Sousa (blogue barcosaoalto.blospot.com)

A Junta de Freguesia na história - 19

A Corporação e o Regedor


Em primeiro lugar devemos dar conta da evolução que pretendemos imprimir a estas pequenas histórias locais. Pequenas, talvez sem importância, mas sempre curiosas e com o seu naco de pitoresco.
Em vez de transcrever tais histórias, passamos a realizar uma descrição sumária, mas sucinta, de modo a deixar a ideia do que se passou em certas épocas da vida da freguesia de Valongo do Vouga. É isso o que vamos tentar fazer a partir de agora, a menos que surjam alguns factos que justifiquem descrição minuciosa. E alguns vão ter que se transcrever na íntegra. Vamos abandonar, também, a transcrição da orotografia usada na época, porque actualmente não parece ter interesse esses pormenores, mas os factos.

A Corporação
Logo após a implantação de República, é notório que a designação tinha de ser diferente. Por isso aparecem nas actas os títulos de «Sessão da Junta de Parochia Republicana». Contudo, a partir de certa altura a designação passa para «Comissão Administrativa», com as mesmas pessoas, o que deixa pressupor que a designação oficial ainda não tinha sido adoptada e/ou determinada oficialmente. Por analogia, não foi assim no 25 de Abril de 1974, onde também se deu a substituição de pessoas, mas no vazio de legislação adequada, se lhes chamou, nessa substituição, «Comissões Administrativas» quer dos Munícipios, quer das Juntas de Freguesias e outros Organismos análogos.
Uma outra questão é o termo «Corporação» que, como se sabe, era a designação oficial do regime que caiu em 25 de Abril de 1974. Aliás, era evidente que o regime se auto-intitulava de Regime Corporativo. Penso que não vale a pena estar agora a justificar porquê.
Esta pequena transcrição da acta da sessão ordinária de 7 de Maio de 1911, confirma, assim: «E aberta a sessão pelo Presidente, foi novamente apresentada a conta de gerência d'esta corporação», aparecendo, em cima, que «se reuniu a Comissão Parochial Administrativa». Foi abandonada a designação «Republicana».

O Regedor
Num dos últimos apontamentos fiz notar que aparecia no Auto de tomada de posse da dita Comissão Administrativa de 20 de Outubro de 1910, uma assinatura de Adjucto Fernandes de Oliveira. Mas este nome não estava assinalado na acta, no rol dos presentes. Então quem era?
Numa mera hipótese, apenas me lembrei de uma pessoa como conotações familiares a outras que conheci e que de um deles ainda vive e de todos conhecido. A acta omite a sua função ou o significado da sua presença e o que lá estava a fazer, continuei com a pesquisa e verifico agora que este nome aparece frequentemente nas actas, como sendo o regedor.
Ou seja, o sr. Adjucto Fernandes de Oliveira, era, naquele tempo da implantação da República, o regedor da freguesia e, talvez por isso, assistia às sessões da Comissão Administrativa, não esclarecendo, até agora, porque é que tinha de constar o seu nome e a sua presença.
Talvez se venha a encontrar alguma coisa, ou haja alguém que nos ajude a esclarecer esta situação. Porque sei que deve haver por aí alguém que saiba disto.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Gente destas terras - 23

JÚLIA DOS SANTOS MAGALHÃES
DIA 10 DE MARÇO NA SIC





Não carece de apresentações. Já aqui desmembramos uma série de estórias, quiçá a sua biografia. É do lugar de Brunhido, onde residiu durante muitos anos. Foi operária fabril. Foi autodidacta da cutura, evidenciando-se no teatro, onde chegou a ter um grupo exclusivo, com o apoio da Casa do Povo de Valongo do Vouga. Frequentou um curso cénico promovido pelo INATEL em Sintra. Esteve na TV1, no Monte da Virgem, onde participou num programa um pouco antes da Praça da Alegria. É uma poetisa popular admirada pelos letrados.
Com muito sacríficio publicou quatro livros de sua autoria. «Estado de Alma em Poesia» «Pedras Soltas», «Contos da Avó» e o último «Ponto Final». Mas não é o último. Tem na forja mais um de encantar, mais dirigido a jovens e adolescentes. Mais ternurento.
E tudo isto para dizer que Júlia Magalhães vai estar no dia 5 de Março nas Escolas de Arrancada; no dia 9 de Março na Escola Fernando Caldeira, em Águeda e em 10 de Março, da parte da tarde no canal de TV SIC, no programa de Fátima Lopes, que se chama, salvo erro, «Vida Nova».
É que gosto de ver este programa e as manifestações de sensibilidade extrema desta simpática apresentadora. Deixem-me dizer isto e que a própria não me leve a mal: aparecem-lhe certas situações a que a sua sensibilidade é mais forte e comove-se. Um dias destes vi isso. Isto são manifestações de carinho, de sentimento de quem sente os problemas dos outros e, às vezes, impotentes situações nos invadem porque não podemos resolvê-los. Estou a referir-me a Pedro Beça Múrias.
A Júlia Magalhães lá estará, na SIC, no dia 10, da parte da tarde. Convido todos os espectadores que tenham a oportunidade de assistir. Porque além da figura de poetisa popular, é uma pessoa da terra, terra esta que raramente apresenta pessoas alcandoradas nestes sítios um tanto ou quanto inacessíveis. Mas a Júlia Magalhães estará lá por direito próprio.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Assaltos e Vandalismo

Os amigos do alheio ou outras «necessidades»





Tal como noutras localidades que as notícias vão dando conta, também no último fim-de-semana esta freguesia foi alvo de assaltos e vandalismo a vários locais, nomeadamente cemitério, obras da Casa do Povo e nas escolas do ensino básico de Arrancada.
Os presumíveis larápios «visitaram» aqueles locais, tendo levado tudo o que podia ser transformado em valor. No cemitério retiraram das campas as pegadeiras metálicas que se colocam nas mesmas. Na Casa do Povo, limitaram-se a «visitar» as obras de construção da Creche, desconhecendo-se o que, pertencente ao empreiteiro, terão subtraído.
Nas escolas do ensino básico, terão levado a cabo alguns actos de vandalismo, puro e simples, além de terem encontrado umas dezenas de euros (cerca de sessenta), que certamente vai ser aplicado naquilo que o móbil do assalto pretendia justificar.
E assim andamos nós neste mundo!!!...

A história local

Brunhido vai perdendo história

Fui alertado pelo Filipe Vidal, a quem agradeço, que uma casa de arquitectura histórica, existente em Brunhido, tinha desaparecido. Não por efeito de qualquer catástrofe que, felizmente, de cá tem andado arredada, mas por iniciativa dos homens.
Dessa casa, temos algumas fotografias antigas, que a seguir apresento como lembrança do que já não existe. Não se realça este facto como prenúncio de condenação ou desaprovação do acto, cujos poderes não possuímos, porquanto uma recuperação daquele imóvel seria bastante dispendioso, senão mesmo tecnicamente difícil.


Aspecto da casa do século XVIII em 1989

Há apenas um factor a registar: desapareceu mais um naco da história local, mais concretamente de Brunhido, uma localidade que já foi vila e sede de concelho, com todas as estruturas que no século XVI estavam previstas, quando D. Manuel lhe concedeu foral em 20 de Março de 1516, com os respectivos sinais de autoridade, como sejam o pelourinho, já desaparecido e no seu local um simples cruzeiro de granito, a Casa de Audiência, praticamente toda remodelada e irreconhecível, senão mesmo já desaparecida.

Os escombros da demolição registados pela objectiva e gentileza do Filipe

Desta localidade e daquela casa, tomamos a liberdade de respigar do Inventário Artístico de Portugal,-Distrito de Aveiro - Zona Sul, que refere o seguinte no capítulo:

«Casas antigas - em Brunhido»

«Distingue-se esta antiga vila por uma casa nada comum nesta região, em que o grês tenro é a pedra natural. São os seus vãos de granito. Deve pertencer à primeira metade do século XVIII. A fachada principal volta-se para a rua que leva à capela [de Stº Estêvão] e a outra para um cruzamento. Tem esta duas janelas rasgadas, de lintéis e cornijas, sacada sobre mísulas, ligando-se-lhes as janelas inferiores, que são de avental. As grades de ferro datam do século XIX, posto que tenham certo aspecto de mais antigas, encerrando monograma formado por dois JJ.»

Esta descrição da casa segue ainda com mais elementos que a destacavam pela sua antiguidade e arquitectura histórica. Admitimos que ali vai nascer uma nova construção, mas estamos em crer (e são apenas suposições) que nessa construção será respeitada a fachada principal perto ou igual ao que estava construído, inclusivé com aproveitamento do próprio material granítico lá existente. Se esta suposição se confirmar, cremos que temos aqui uma atitude de louvar e enaltecer. Que assim seja...

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